α-Centauri C
Recentemente foi anunciada por uma equipa internacional de astrónomos a existência de poeira ao redor de alpha Centauri C, também conhecida pela alcunha Proxima Centauri. Distante 4,23 anos-luz do Sol, Proxima Centauri é a estrela mais próxima do Sol. O detalhe não está somente na presença de poeira; além disso, constatou-se a presença de duas cinturas de poeira – uma interna e outra externa.
Conforme mostrado na figura 01, a cintura interna é uma região mais quente ao passo que a externa contem poeira fria. Com esses dados, o mínimo que podemos esperar é a deteção de um sistema planetário. E caso isso realmente se concretize, significa dizer que o sistema planetário mais próximo da Terra encontra-se apenas a 4 anos-luz daqui. Quantos planetas encontram-se ao redor de Alpha Centauro C? A resposta ainda está em aberto. Entretanto, há quem sugira uma analogia entre as cinturas de poeira de Proxima Centauri e as cinturas de asteroides e de Kuiper (do Sistema Solar). Para validar esta tese, um bom começo passa a ser a confirmação de que os principais componentes das cinturas interna e externa de Proxima Centauri são partículas de rocha e gelo, que por algum motivo, não conseguiram formar planetas.
O NEPA analisou os dados apresentados e esperamos encontrar ao menos um planeta tipo-Júpiter. Proxima Centauri é uma anã vermelha situada na constelação de Centauro (vide figura 02). Em 2016, já sabíamos da existência de um planeta tipo-Terra, denominado Proxima b, a orbitar a estrela Proxima Centauri. Mas o que mudou? A resposta é óbvia: o sistema planetário de Proxima Centauri é mais complexo do que esperávamos. Os astrónomos que estão à frente desta investigação usaram o telescópio ALMA e notaram uma persistente radiação oriunda das nuvens de poeira, na cintura externa.
Dr. Anglada, o autor principal desta investigação, explicou a importância desta descoberta da seguinte maneira:
“A poeira que rodeia Proxima Centauri é importante porque, no seguimento da descoberta do planeta terrestre Proxima b, trata-se da primeira indicação da presença de um sistema planetário elaborado, e não apenas de um único planeta, em torno da estrela mais próxima do nosso Sol.”
Na figura 03, temos o registo da dupla alpha Centauri AB, em azul, no canto superior esquerdo da imagem. E logo no canto inferior direito, um tênue brilho vermelho evidencia a presença de Proxima Centauri. Para clarear, ainda não sabemos se as duas outras estrelas Alpha Centauri AB possuem cinturas de poeira. Por ora, somente Proxima Centauri apresentou tais cinturas. Mas afinal, o que são cinturas de poeira? Tratam-se de restos de materiais, os quais foram incapazes de formar planetas ou qualquer outro corpo com tamanho significativo. Em sua maioria, as cinturas de poeira são formadas por partículas de rocha e gelo, tendo vários tamanhos – da ordem de milímetros até a ordem de alguns quilómetros de diâmetro.
Os astrónomos estimaram que a poeira, ao redor de Proxima Centauri, tem um raio da ordem de algumas centenas de quilómetros a partir da estrela. Entretanto, a massa total de poeira equivaleria a um centésimo da massa da Terra. Quanto à temperatura, a cintura externa apresenta-se a 230°C – em comparação com a cintura de Kuiper, é tão fria quanto. Mas as comparações terminam por aí, afinal, há indícios de uma outra cintura, mais fria e tênue, localizada aproximadamente 10 vezes mais longe que a segunda cintura de poeira. Neste quesito, não está claro para nós a natureza desta cintura, afinal, o meio é muito frio e Proxima Centauri é mais fria e amena que nosso Sol. Por isso, a equipa está a investigar com mais critérios. Se de facto for confirmada uma terceira cintura de poeira, a pergunta imediata é: será que o Sistema Solar também teria uma terceira cintura de poeira? Se a resposta for afirmativa, então, poderemos afirmar que o Sistema Solar é maior do que imaginávamos. Uma cousa é certa, as cinturas estão bem mais distantes de Proxima Centauri do que o exoplaneta Proxima b, o qual possui um raio orbital da ordem de 4 milhões de km.
Na figura 04, temos o observatório de La Silla, Chile, e em destaque seu telescópio de 3,6m – equipamento monitorado pela equipa do ESO. Na parte inferior da figura 04 aparecem, respectivamente, a dupla estelar Alpha Centauri AB (à esquerda) e Proxima Centauri (à direita). Vale sublinhar que as imagens das estrelas que aparecem em evidência na figura 04 foram captadas pelo Telescópio Espacial Hubble (da NASA/ESA). O exoplaneta Proxima b foi descoberto com a ajuda do equipamento HARPS o qual está montado no telescópio de 3,6m do ESO.
Na prática, nós usamos a forma da cintura exterior para encontrar a inclinação do sistema planetário e, em seguida, calculamos a massa aproximada do exoplaneta. No caso de Proxima Centauri, conhecemos até o momento, o limite inferior da massa do exoplaneta Proxima b.
Segundo os autores desta investigação, os resultados deste estudo sugerem que Proxima Centauri possivelmente tenha um sistema planetário múltiplo e, se assim for, será algo nada trivial para se explicar. Ou seja, as interacções entre seus planetas seria algo fantástico de se acompanhar e certamente o comportamento das mesmas tenha influenciado directamente na formação de cada cintura de poeira. Resta-nos, agora, localizar cada um dos exoplanetas.
Vale salientar ainda que há planeamentos para futuras explorações do sistema planetário de Proxima Centauri. Denominado Starshot, este projecto tem como objectivo o envio de micro-sondas ligadas a velas impulsionadas a laser. Antes disso, precisamos de mais informações sobre a poeira que forma as cinturas de Proxima Centauri. Tal procedimento é fundamental para desvendarmos perguntas a respeito do Sistema Solar. Uma dessas perguntas seria: como a Terra se formou? Parece que a resposta está ao nosso alcance.
Dr. Nélio Sasaki – Doutor em Astrofísica, Coordenador do NEPA, Líder do NEPA/UEA/CNPq, membro da União Astronómica Internacional (UAI), Sociedade Brasileira de Astronomia (SAB), Associação de Planetários da América do Sul (APAS), Associação Brasileira de Planetários (ABP), Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Sociedade Brasileira de Física (SBF) e do Grupo de Astronomia para o Desenvolvimento (PLOAD), revisor das revistas IODA e Areté e revisor ad hoc do PCE/FAPEAM, Director dos Planetários de Manaus e Parintins, Professor Adjunto da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).