67P/Churyumov-Gerasimenko – parte 2
Na figura 01, temos o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, devido à sua geometria, ele recebeu a alcunha de “patinho de borracha”. Em princípio, investigadores trabalhavam com a hipótese que o formato acima tenha sido fruto do processo de formação do Sistema Solar. Mas essa afirmação virou alvo de questionamentos, nos últimos dias. Pois, embora 67P/Churyumov-Gerasimenko tenha apresentado material primordial, astrónomos provaram que a idade do cometa é inferior a mil milhões de anos, muito aquém dos 4,5 mil milhões de anos do Sistema Solar.
Como se pensava antes? Imaginávamos que o cometa surgiu ainda nos primórdios da formação do Sistema Solar. Fase em que as colisões eram constantes entre os objectos. Entretanto, dois objectos se colidiram de forma peculiar há 4,5 mil milhões de anos, o que resultara no cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko. O que deu errado com essa versão? Acontece que se continuarmos a pensar assim, então, estamos a supor que o cometa se formou e permaneceu livre de colisões ao longo de todos esses anos. Será que 67P/Churyumov-Gerasimenko sobreviveria tanto tempo intácto?
Actualmente, a hipótese é que houve uma fase inicialmente tranquila para o cometa, porém, com o passar dos anos a fase mudou e se apresentou repleta de colisões violentas. Se observarmos, mais uma vez, a figura 01 – notaremos que o “pescoço” do patinho é um ponto extremamente frágil do cometa. Logo, ele não sobreviveria aos intensos impactos.
Para clarear toda essa história há dois caminhos, a saber: ou consideramos que o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko sofreu muitas colisões todo esse tempo e, neste caso, seus lóbulos seriam facilmente destroçados devido aos fortes impactos. Ou então, dizemos que a forma actual do cometa não é devida aos primórdios do Sistema Solar. Antes disso, foi “desenhada” pelas últimas colisões que, possivelmente, aconteceu nos últimos mil milhões de anos. Neste contexto, a forma de “patinho de borracha” se mostra mais jovem do que pensávamos.
As consequências destas considerações são: ou o modelo padrão actual da evolução do Sistema Solar em sua fase embrionária está incorrecto e que existiriam menos objectos menores do que se esperava. Consequentemente, não há espaço para a ocorrência de muitas colisões. Logo, se adoptamos que o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko seja o resultado de vários impactos, então, o modelo padrão fica inalterado.
Os astrónomos também investigaram que tipo de colisão seria a responsável pela forma actual do cometa. Descobriu-se que provavelmente corpos menores, cujos diâmetros variam de 200m a 400m se colidiram com outro corpo extenso, com cerca de 5 km de diâmetro e que estava a girar. Se a velocidade de impacto estivesse dentro do intervalo entre 200 m/s e 300 m/s, então, a energia envolvida seria inferior àquela necessária para uma catastrófe, resultando em duas partes, que devido à força gravítica se fundiu posteriormente em uma estrutura apenas.
Particularmente, caro leitor, se você está a imaginar que estamos diante uma contradição: que o conceito tradicional da Astronomia, o qual afirma que os cometas trazem consigo material primordial (ou seja, tão antigo quanto o nosso Sistema Solar) esteja errado. Se você pensou assim, então, sinto muito em decepcioná-lo, nobre leitor. Pois, de facto, a estrutura “patinho de borracha” é frágil para sobreviver às intensas colisões. Por outro lado, se há poucos objectos menores no Sistema Solar, então, deveríamos ter mais choques, certo? Não necessariamente. A força gravítica realmente está presente, mas, o Universo está a expandir-se (o espaço-tempo está a dilatar-se). Com a expansão, a temperatura do Universo cai condideravelmente. De tal maneira que a energia de impacto não é capaz de aquecer ou comprimir o cometa, de maneira global. Preservando seu estado natural. Temos que levar em consideração, também, que o cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko é poroso e todo o material volátil que estava presente no cometa desde o início ficou intacto. Essas propriedades foram medidas convincentemente pela sonda Rosetta. No fundo, não estamos a reescrever a história e sim a descobrir como o cometa tem preservado nossa própria história. Uma cousa é dizer que localmente sua idade é recente, outra muito diferente é dizer que globalmente o cometa não tenha de alguma maneira ter sido originado do Sistema Solar primordial.