A vez do deus da Guerra – parte 2
Em 2016, falamos sobre a sonda ExoMars que fora enviada para Marte com um planeamento investigativo muito bem tracejado. Hoje, regressaremos a esse tema, afinal, o sinal verde já foi emitido para que a ExoMars avance e realize sua primeira coleta de dados científicos em Marte.
O TGO – sigla usada para nos referirmos ao nome oficial de ExoMars “Trace Gas Orbiter” – é fruto do trabalho conjunto entre ESA e Roscosmos, isto é, união europeia e russos a unirem forças em prol do desenvolvimento. Tecnicamente, o TGO seguiu um percurso demasiadamente elíptico, que o possibilitou frequentar as altitudes entre 230 km até 310 km. Porém, qualquer missão de cunho científico iniciar-se-á na marca dos 400 km de altitude, onde a órbita atingirá um formato quase circular.
As observações-testes foram realizadas todas em 2016, o que significa dizer que para 2017 teremos os experimentos propriamente dictos. Pela frente teremos detecção de neutrões e calibração do fluxo de fundo, isto é, queremos investigar como os neutrões estão a ser lançados e com que velocidades os neutrões estão a chegar ao TGO. A tecnologia usada permite a localização de hidrogénio, mesmo a baixíssimas quantidades. Isso só é possível, pois, este elemento altera a velocidade do neutrão, o que possibilita o registo de regiões gélidas e/ou com água.
Durante a virada do ano, o TGO estava a enviar para a Terra os dados que compõem um “inventário” sobre a atmosfera marciana, deixando à vista todos os gases presentes na atmosfera do planeta vermelho. Neste quesito, chama-se a atenção para o metano, que em nosso planeta é produzido através de actividades biológicas e/ou processos geológicos.
Além dos experimentos, estão previstos também alguns estudos sobre Fobos (uma das luas marcianas). Observar Fobos é fundamental, didático e educativo, temos que ter em mente que se trata da maior lua de Marte. Suas ranhuras começam a revelar que em breve o planeta vermelho terá um satélite natural a menos.
Outro aspecto importante a ser investigado pelo TGO é a fonte que origina os gases da atmosfera marciana. A equipa de astrónomos envolvida nesta missão tem experiência com os obstáculos a serem superados, afinal, trabalharam antes em duas outras missões marcianas: Curiosity e Opportunity.
Com tanta tecnologia envolvida, vamos conhecer melhor alguns recursos do TGO?

A figura 02 está a mostrar os principais recursos do TGO. Aqui, falaremos sobre quatro conjuntos de equipamentos, a saber: CaSSIS, FREND, NOMAD e ACS.
CaSSIS é a sigla para “Colour and Stereo Surface Imaging System”, como o próprio nome sugere, trata-se de um sistema de imagem de superfície estéreo e cor. Ou seja, uma câmara de alta resolução (com pixel de 5 m) que obterá imagens coloridas e estéreo da superfície marciana. Ao final do mapeamento da superfície do planeta vermelho, este sistema fornecerá informações mais precisas sobre as actividades geológicas e a dinâmica que está a envolver as fontes de gases vestigiais detectados por outros dois sistemas: NOMAD e ACS.
FREND é a sigla para “Fine Resolution Epithermal Neutron Detector”, ou simplesmente, detector de neutrões. Sua função é rastrear e mapear o hidrogénio localizado na superfície marciana e até 1m abaixo da mesma. Assim, saltariam aos nossos olhos todos e quaisquer resquícios de água nas proximidades da superfície de Marte. Estima-se que os registos de água na superfície marciana sejam muito superiores àqueles já realizados por outras missões.
NOMAD é a sigla para “Nadir and Occultation for Mars Discovery”, sendo de facto um conjunto de espectrómetros (ao todo são três) que permite a realização de medidas do espectro de luz solar em diversos comprimentos de onda – infravermelho, ultravioleta e visível. Sua diversidade e vasta cobertura viabiliza a detecção dos componentes da superfície de Marte, vale salientar que o NOMAD não somente identifica os elementos da atmosfera, como também, é capaz de localizá-los. Para isso, os astrónomos poderão lançar mão tanto da ocultação solar quanto das observações realizadas em directo com a luz refletida em observações do nadir.
ACS é a sigla para “Atmospheric Chemistry Suite”, embora este sistema tenha sua própria independência, ele completará as pesquisas do NOMAD. Trata-se de um conjunto de três espectrómetros infravermelhos que actuarão no sentido de estudar a astroquímica e outros assuntos relevantes sobre a atmosfera marciana.