Atmosfera marciana -parte 3
A figura 01 esta a elucidar como seria Marte no passado (lado direito da imagem) – onde imaginam-se que o planeta vermelho abrigasse água líquida e uma atmosfera mais espessa. Tudo isso em contra-ponto com a realidade actual do planeta vermelho (lado esquerdo da imagem), onde o domínio é de um ambiente frio e seco.
Recentemente, a sonda MAVEN (que foi enviada pela NASA) está a estudar a atmosfera marciana. MAVEN tem como objectivos entender como Marte teve sua atmosfera alterada e como a atmosfera actual está a interagir com a radiação e o vento solares.
Desde 2014 a estudar o planeta vermelho, a sonda MAVEN (do inglês: Mars Atmosphere and Volatile Evolution Mission) começa a nos revelar dados importantíssimos. Um deles é o facto de que tanto os ventos quanto as radiações solares estão directamente envolvidos no processo de remoção da atmosfera marciana. A mudança é muito clara, conforme está elucidado na figura 01, onde Marte apareceria com atmosfera saudável e com potencial para abrigar vida (isso, há milhares de milhões de anos no passado) e logo em seguida, um ambiente frio e desértico.
As análises dos estudos realizados pela MAVEN revelaram que a grande maioria do gás que estava na atmosfera marciana (no passado), acabou sendo perdido para o espaço. Para termos uma idéia, 65% do argão – que havia na atmosfera de Marte- se perdeu.
Segundo a equipa que está à frente da missão MAVEN, a água líquida existente em Marte não é estável, haja vista que sua atmosfera é muito fina e fria, factos que inviabilizam a estabilidade dessa substância que é essencial à vida. As evidências de leitos de rios e minerais – que habitualmente são formados na presença de água líquida – dão-nos indício de que no passado, o clima marciano era muito diferente do actual. Marte era quente o bastante para permitir que a água corresse ao longo de sua superfície, evento que durava um bom tempo.
Evidentemente, podemos afirmar: mas isso já é passado, não irá nos acrescentar algo mais, certo? Errado. Eis aqui um grande alerta para todos nós, afinal, está claro que processos naturais podem, paulatinamente, alterar a condição de habitabilidade de um planeta. Só para lembrar, a Terra está a caminhar neste sentido, ok?
Evidentemente, há inúmeras maneiras através das quais um planeta pode perder sua atmosfera, citemos algumas delas: i) reacções químicas – as quais podem deixar o gás preso nas rochas à superfície; ii) corrosão da atmosfera – em virtude da intensa radiação; iii) Ventos solares – a estrela-mãe pode “varrer” a atmosfera de um planeta com extrema facilidade.
No caso de Marte, os resultados obtidos pela MAVEN sublinham que os ventos solares e a radiação solar são os maiores colaboradores para a extinção da atmosfera marciana. Além do mais, a acção constante desses processos levaram ao esgotamento e transformação radical e irreversível do clima em Marte.
Temos que levar em conta também que o Sol (do passado) era mais intenso que o actual. De forma que a radiação ultravioleta e o vento solar tinham impactos fortíssimos sobre a atmosfera marciana. Foi um processo quase que inevitável. Diferente da Terra, onde o principal causador do aumento da temperatura de nosso planeta é o homem (e sua inigualável mania de poluir).
Para obter os dados recentes, a equipa usou uma técnica que mede a abundância de dois isótopos do gás argão na atmosfera marciana. As observações e os espectros registados deram conta de que o isótopo mais leve escapa facilmente para o espaço, ao passo que, o mais pesado fica retido na atmosfera. Como sabemos, o argão é um gás nobre e como tal o processo de remoção do mesmo passa pela “pulverização catódica” do vento solar. Neste processo, os iões são levados -pelo vento solar- à colidirem com Marte em um processo que envolve elevadas velocidades. O que promove um “arrastão” do gás atmosférico para o espaço. Vale ressaltar que o sucesso da pesquisa somente deu-se pois é relativamente fácil rastrear vestígios da pulverização. Evidentemente, qualquer outro mecanismo de fuga de outros gases não foi detetado ainda. Claro que, uma vez determinada a quantidade de argão perdida por pulverização, esse dado servirá para calcularmos a perda de outros átomos e moléculas, como por exemplo, dióxido de carbono (CO2) , também por pulverização.
O interesse no dióxido de carbono está directamente ligado ao facto dele ser a substância mais abundante da atmosfera marciana e também por ele promover o efeito estufa- fenómeno no qual o calor é retido e aquece o planeta Marte.
Evidentemente que os resultados de hoje são reflexo de toda a estrutura conquistada ao longo dos anos, décadas e décadas de estudo e e dedicação às questões que dizem respeito não somente ao meio ambiente terrestre, mas ao nosso Sistema Solar como um todo. Para ilustrar o que foi dito, ainda estamos a usar os dados do rover Curiosity. Por fim, todos os recursos disponíveis estão a ser usados para que possamos compreender de facto todo o processo de formação e degradação da atmosfera marciana.