CI Tau b
Em um passado recente, havia alguns investigadores que defendiam a idéia de que os denominados planetas maiores levariam mais tempo para se formarem. Mas ciência é muito dinâmica, principalmente, a Astronomia.
Recentemente, um grupo de investigadores anunciou a descoberta de um planeta gigante que ainda possui um disco circunstelar de gás e poeira ao seu redor. Para fins de registo, a estrela-hospedeira é muito jovem.
Décadas e décadas levaram a Astronomia convencional afirmar que os planetas considerados grandes, tais como Júpiter, levam 10 milhões de anos ou mais para se formarem. Entretanto, com o avançar da tecnologia espacial, a partir de 2006 essa concepção começou a ruir. Consequentemente, novos caminhos foram apontados, o que nos leva ao seguinte cenário: para termos o completo conhecimento à respeito da formação planetária, faz-se necessária a identificação de um número razoável de planetas recém-formados e cuja estrela-hospedeira ainda seja jovem.
Um instante, talvez seja momento de dar cordas aos sapatos, haja vista que não sabemos se realmente há outros sistemas planetários, certo? Resposta: Não é bem assim que funciona a Astronomia, ok? Para termos uma visão panorâmica, busquemos alguns dados. Hoje, temos 2,5 mil sistemas planetários descobertos, até o momento são 3,3 mil exoplanetas confirmados. Se somarmos o número total de planetas (incluindo objectos do Sistema Solar e exoplanetas não confirmados) chegaremos à impressionante marca nos 3,4 mil planetas. [Observação: Nós conhecemos apenas 4% do Universo, ok?]. Ou seja, são boas as chances de encontrarmos um exoplaneta cuja estrela-hospedeira seja jovem.
Foi neste contexto que os astrónomos encontraram o CI Tau b, um planeta oito vezes maior que Júpiter e que orbita uma estrela, cuja idade é da ordem de 2 milhões de anos, e possui um período orbital de 9 dias, aproximadamente. [Vale sublinhar que essa idade em se tratando de estrelas, é um neném!]. A estrela CI Tau está a cerca de 450 anos-luz da Terra na direcção da Constelação de Touro.


Vale salientar que os números acima poderão ser alterados a qualquer momento, não é um valor fixo e imutável, e como você já percebeu, a tendência é que aqueles números somente aumentem. Quanto mais a tecnologia espacial avança, maiores são as chances de encontrarmos mais e mais exoplanetas. Evidentemente, há planetas mais velhos e mais jovens do que a Terra. Em particular, a descoberta de planetas nas redondezas de estrelas recém-formadas é um processo que apresenta inúmeros empecilhos. Aqui, lembramos que, infelizmente, temos poucas estrelas candidatas jovens e brilhantes o suficiente para serem observadas detalhadamente com o auxílio de telescópios.
O detalhe é que estrelas jovens apresentam intensa actividade estelar, outro aspecto a ser contabilizado trata-se da existência de discos de gás e poeira a partir dos quais se formam os planetas. Ou seja, a quantidade de gás e poeira pode ser um factor a ser superado para o estudo de explanetas. Ainda mais quando se usa telescópio terrestre.

Na figura04, estamos a ver o telescópio Harlan J. Smith (localizado no Texas, Estados Unidos da América) que foi usado para fazer as observações que conduziram a equipa de astrónomos à descoberta de CI Tau b.
Por outro lado, as consequências da hiperactividade das estrelas jovens são: alternância de explosões visuais e diminuições de brilho; campos magnéticos fortíssimos; e manchas estelares gigantescas, as quais podem – em princípio – apresentar comportamento similar aos dos planetas e induzir investigadores à uma conclusão equivocada.

O resultado apresentado pela figura05, está a destacar o disco circunstelar de gás e poeira que rodeia a estrela CI Tau. De facto, é um gráfico da declinação versus ascensão recta. E a interpretação é simples, uma vez que aquele demonstra ser possível a foramção de um planeta gigante em um tempo inferior aos 10 milhões de anos citados no início deste artigo. Afinal, para se formar um planeta basta que o gás e a poeira, remanescentes da estrela recém-formada, estejam presentes no disco protoplanetário. Mas atenção, a formação de planetas gigantes na parte interna do disco influencia decisivamente na formação dos planetas rochosos que estão a se formar, também na região interna do disco, onde está situado o CI Tau b.
Por fim, a equipa de investigadores espera que sejam encontrados mais planetas ao redor de estrelas jovens. Por ora, há muitos grupos de pesquisa em Astronomia que estão a abordar essa questão. Evidentemente que o surgimento de novos estudos, em princípio, pode sinalizar novos caminhos e buscas por respostas às questões que estão em aberto.
Dr. Nélio Sasaki – Doutor em Astrofísica, Líder do NEPA/UEA/CNPq, Membro da SAB, Membro da ABP, Membro da SBPC, Membro da SBF, membro da UAI, membro da PLOAD/Brasil e ST/Brasil, Revisor da Revista Areté, Revisor da Revista Eletrônica IODA, Revisor ad hoc do PCE/FAPEAM, Coordenador do Planetário Digital de Parintins, Coordenador do Planetário Digital de Manaus, Professor Adjunto da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).