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Empurradores de alegorias são protagonistas anônimos do festival

Por: Kássia Muniz | Especial Parintins 2019

O Festival Folclórico de Parintins não se limita apenas a rivalidade dos bumbás Caprichoso e Garantido pelo campeonato. A disputa transcende em vencer também os desafios fora da arena, as dificuldades de se criar um espetáculo aguardado com expectativa e, muitas vezes, demanda força física, dedicação e sincronia em um trabalho coletivo e anônimo de levar os módulos alegóricos para o Bumbódromo.

Não é um trabalho fácil. Por isso, esses profissionais são chamados de guerreiros. Em cada boi, ganham uma denominação diferente: Paikicés, no Caprichoso, em referência aos guerreiros do povo indígena Mundurucu, e Kaçaurés, no Garantido, guerreiros do sol. No boi vermelho, o trabalho inicia cedo, já que para levar as alegorias dos galpões, na estrada Odovaldo Novo, até a concentração do Bumbódromo, exige tempo e trabalho redobrado.

O Garantido monta uma grande operação logística, com o apoio de órgãos como Departamento Estadual de Trânsito do Amazonas (Detran), Empresa Municipal de Trânsito d Transportes (EMTT), Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e concessionária Amazonas Energia. Todo esse planejamento é feito para o transporte das alegorias, que pesam toneladas, em um trajeto de mais de 1,2 quilômetros, considerado longo.

O coordenador dos kaçauerés, Valdenor Santos, diz que colocar as alegorias do bumbá na concentração e na arena segue um rigoroso cronograma de trabalho conjunto, no qual os empurradores recebem, tanto treinamentos, exames médicos, quanto Equipamentos de Proteção Individual (EPI). O principal cuidado é com a segurança dos trabalhadores e a proteção dos condutores de veículos nas ruas por onde passam as alegorias, a fim de resguardar a integridade física das pessoas.

O diretor administrativo do Garantido, Osório Melo, informa que estão cadastrados 180 kaçauerés, dos quais 120 são responsáveis pelo translado dos módulos alegóricos e 60 colocam o boi na arena nas três noites do festival. Os profissionais conduzem mais de 160 estruturas de alegorias até a área de concentração do Bumbódromo. Amor, dedicação e esforço fazem parte da rotina dos kaçauerés para superar as adversidades pelo caminho.

Já no Boi Caprichoso, o translado inicia às vésperas das apresentações, pois os galpões onde são confeccionadas as alegorias, ficam a poucos metros da concentração do Bumbódromo. Jofre Lima, fundador dos Paikicés, lembra que o trabalho começou com poucas pessoas quando o Caprichoso inovou com as estruturas de ferro das alegorias, na década de 1990, e hoje soma mais de 160 profissionais. “A função é essencial e necessária. Os paikicés são importantes para botar o boi na arena, tirar do galpão, ir para concentração, levar para a arena e depois retornar ao galpão. Sem eles, não acontece isso”, avalia.

Em ambos os bois, o trabalho não é somente empurrar os módulos, mas sim “armar” na concentração as estruturas alegóricas de maneira que facilite a entrada na arena do Bumbódromo, sem contar todo o cuidado com a segurança dos trabalhadores e com as grandes estruturas que ganharão vida nas apresentações.

Mas afinal, que são esses trabalhadores? Segundo os coordenadores de cada boi, geralmente os trabalhadores são pessoas experientes que já conhecem o ofício dos festivais anteriores e a cada ano passam por orientações de medidas de segurança e sobre o trabalho a ser realizado como, por exemplo, a montagem, a alegoria de cada artista, equipamentos, remuneração, entre outros.

Ser paikicé ou kaçauré não é para qualquer um. Além de ser um ofício exaustivo, é perigoso, devido os riscos que surgem durante o translado, o que já ocasionou, em anos anteriores, acidentes graves e até mesmo o óbito de alguns trabalhadores. Porém o trabalho desses profissionais é reconhecido por muitos, principalmente por aqueles que acompanham os bastidores do festival e sabem o quanto exige dedicação e também, porque não, amor ao boi.

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