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Ex-advogado de Fernandinho Beira-Mar vai defender traficante amazonense João Branco

João Branco está preso há um ano em um presídio federal no Paraná (Foto: Evandro Seixas / A Crítica)

Especialista em defender criminosos de alta periculosidade, o advogado carioca José Maurício Neville de Castro Júnior será o responsável pela defesa do narcotraficante João Pinto Carioca, o “João Branco”, um dos acusados pela morte do delegado Oscar Cardoso, em março de 2014, e um dos líderes da facção criminosa Família do Norte (FDN).

No currículo de Maurício Neville estão as defesas de Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, condenado pela morte do jornalista Tim Lopes, em 2002, e Luiz Fernando da Costa, Fernandinho Beira-Mar, líder da facção criminosa Comando Vermelho. A facção, por sinal, é aliada da FDN, criada em Manaus e que tem João Branco como um de seus líderes, ao lado de José Roberto Fernandes Barbosa, o Zé Roberto da Compensa. Neville também já defendeu o ex-policial militar Nelson Oliveira dos Santos Cunha, um dos condenados pela execução de oito pessoas conhecida como Chacina da Candelária, em 1993.

Maurício Neville irá defender João Branco no próximo dia 5 de maio, quando ele será julgado ao lado de Marcos Roberto Miranda da Silva, o “Marcos Pará”, Messias Maia Sodré, Adriano Freire Correa, o “Maresia”, Diego Bruno de Souza Moldes e o empresário Mario Jorge Nobre de Albuquerque, o “Mário Tabatinga”.

Todos eles são acusados de executar o delegado Oscar Cardoso, que foi morto em 9 de março com mais de 20 tiros. Na ocasião, o delegado estava em frente à casa dele, no bairro São Francisco, com o neto no colo. Conforme as investigações, a criança foi arrancada do colo dele antes da execução. “Atira em mim, mas não atira no meu neto. Não mata o meu neto”,  teria dito o delegado, antes de morrer.

“João Branco” entendia que um grupo de policiais presos na operação “Tribunal de Rua”, comandado pelo delegado Cardoso, teria sequestrado, extorquido e estuprado a mulher dele, Sheila Faustino Peres, em 2013.  O narcotraficante  está preso há pouco mais de um ano no presídio federal de Catanduvas, no Paraná, para onde foi transferido após ser preso pela Polícia Federal no Estado de Roraima. Ele estava foragido desde março de 2014, quando escapou do Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus. Porém só passou a ser procurado pela PF após a operação La Muralla, deflagrada em novembro de 2015 e que tinha o objetivo de desarticular a organização criminosa FDN.

O promotor de Justiça Ednaldo Medeiros, responsável pelo caso, afirmou que a escolha do advogado de defesa do narcotraficante só comprova que as facções criminosas do País estão articuladas e organizadas, como vem sendo apontado nas investigações da Polícia Federal.

“Essa constatação que ele será defendido por um advogado que defendeu líderes de facções criminosas de outros estados, como do Rio de Janeiro, só reforça que a criminalidade se organiza e busca braços em outros estados. O Ministério Público e o Estado [do Amazonas] também estão organizados e preparados para esse julgamento independente do advogado que o João Branco trouxer”, declarou.

A reportagem tentou entrar em contato com o advogado de João Branco, mas não obteve sucesso.

Ligação antiga

A Família do Norte, facção comandada por João Branco e Zé Roberto da Compensa, é uma antiga aliada do Comando Vermelho, liderada por Fernandinho Beira-Mar, que está preso desde 2002 – sempre em presídios federais.

Reportagem publicada pelo jornal A Crítica em 2012 revelava a ligação íntima entre os líderes do grupo criminoso amazonense e o narcotraficante carioca.   Na época, a intenção do grupo era criar o Primeiro Comando do Norte (PCN), uma união criminosa que buscava rivalizar com o Primeiro Comando da Capital (PCC), criado em São Paulo e que aquela época já começava a se expandir pelo País.

Com base em relatórios da Polícia Federal, a reportagem mostrou que detentos do Amazonas que cumpriam pena no presídio federal de Campo Grande mantinham ligações estreitas com o grupo de Beira-Mar, que esteve no local até 2012.

A relação era tão próxima que advogados e familiares dos traficantes amazonenses ficavam hospedados junto com o grupo de Beira-Mar em uma pensão alugada pelo traficante.

Funk exaltou relação

No início deste ano, após a rebelião que deixou 56 mortos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), membros da FDN divulgaram um funk em que narram os momentos vividos na segunda matança já registrada no sistema prisional brasileiro.

Em pelo menos duas passagens do funk, a relação da FDN com o CV é exaltada. “O comando é um só, tá daquele jeito, representa FDN e junto o Comando Vermelho”, diz um dos trechos. “Um aviso eu vou dar, então fica ligado, somos da FDN e CV lado a lado”.

Confiança na condenação

O promotor afirmou, ainda, que o Ministério Público Estadual, autor da denúncia, reuniu indícios robustos da participação de João Branco na morte do delegado. Na época do crime, ele próprio ficou encarregado de fazer a análise desses materiais coletados.

“O João Branco deu a ordem para executar o delegado motivado por uma suposta participação do Oscar no sequestro de sua esposa. Essa mera conjectura do João foi suficiente para ele mandar matá-lo. A investigação possibilitou a análise de outros elementos de ordens policiais que permitiram chegar aos outros autores, que levaram a outros autores. Na visão do Ministério Público, o João Branco não só deu a ordem para matar o delegado como participou diretamente da execução”, disse o promotor.

Ednaldo Medeiros admitiu que participar deste julgamento desperta um sentimento diferente. “Há uma grande expectativa para esse julgamento e me perguntaram se o considero especial. Disse que sim, mesmo dentro de uma rotina do Tribunal do Júri, porque tratamos de homicídios dessa natureza.  Mas não deixa de ter a sua relevância porque um líder de uma facção criminosa estará no banco do réu. O crime não prosperará no Estado do Amazonas”, finalizou.

Da Acritica

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