Missão InSight – parte 1
A partir de 2019, os astrónomos poderão estudar em detalhes as profundezas do interior marciano. A missão InSight [do inglês: Interior Exploration using Seismic Investigations, Geodesy and Heat Transport] foi lançada no dia 05 de maio de 2018. O objectivo principal é realizar o estudo dos sismos de Marte. Essa missão nos ensinará muito mais sobre a crosta, manto e núcleo do deus da guerra.
A grande questão é: como nascem os planetas? Certamente, o estudo dos tremores da Terra nos dá uma pista. O ramo da Ciência que se dedica a essa investigação chama-se sismologia.

Infelizmente, com o passar dos anos, o registo geológico terrestre está a se misturar. Facto que ajuda a camuflar a nossa história mais antiga. Comparado com a Terra, Marte é bem menos activo, porém, é fóssil e preserva a história do seu nascimento. Neste aspecto, a resposta ao questionamento “como os planetas se formam?” pode sim estar no estudo de Marte.
Devido ao rompimento das rochas (ou ao movimento das mesmas), ondas sísmicas são produzidas, as quais são conhecidas como sismos. Em geral, a velocidade do sismo varia conforme o material geológico do meio que está a conduzir as ondas.
Para conseguirmos êxito no estudo sobre Marte, foram projectados sismógrafos (tais quais o instrumento SEIS da InSight) que medem o tamanho, frequência e velocidade dos terremotos. Como resultado, temos um instantâneo do material pelo qual os sismos estão a passar. Portanto, o sismógrafo funciona como se fosse câmara, a qual regista uma imagem do interior do planeta.

Na sua constituição, rochas e minerais mais densos ajudaram a formar o manto e o núcleo de Marte. Ao passo que a crosta marciana é composta por rochas e minerais menos densos. A compreensão deste mecanismo nos ajuda a entender a razão pela qual certos planetas se transformam em “Terras” e não em “Martes”. Dentro desta resposta, encontramos “pistas” a respeito de onde a vida pode surgir no Universo.

Em princípio, o planeamento da missão foi assim distribuído: esperamos que sejam registados no mínimo, vinte e quatro (24) sismos e, no máximo, algumas centenas de sismos em Marte. Outra estratégia será o uso de meteoritos, haja vista que a cada meteorito que cruzar a tênue atmosfera do planeta vermelho, resultará em um novo registo. O ponto negativo nesta estratégia é tentar obter uma visão global do planeta somente com os dados coletados em uma região bem específica da superfície marciana.
O lado positivo é que a InSight dará lugar ao único sismógrafo do planeta vermelho. Entretanto, esta não é a primeira missão, da NASA, a envolver sismologia. As missões Apollo deixaram quatro sismógrafos na Lua. Nos anos 70, os “landers” Viking fizeram uma tentativa de fazer sismologia em solo marciano. Mas, a experiência não foi bem sucedida. Vale salientar que a InSight não ficará restrita à sismologia. Sinais de rádio serão usados para revelar se o núcleo de Marte está fundido ou não. Sensores de vento, pressão e temperatura permitirão aos astrónomos, e demais cientistas envolvidos nesta investigação, subtraírem o “ruído” vibracional provocado pelo clima marciano. Até o momento, a combinação de todos esses dados e técnicas nos fornecerá a imagem mais detalhada sobre Marte.
Em suma, a Astronomia planetária dá um salto no que diz respeito ao conhecimento dos planetas telúricos. Os registos não são restritos somente a Marte, mais do que isso, revelarão muito sobre a Terra. Além disso, obteremos muito mais informações sobre planetas tipo-Terra e planetas tipo-Marte. Como as investigações neste tema estão a crescer, a indagação imediata é: como é o nosso Sistema Solar? Essa e outras questões, que estão em aberto, em breve terão as primeiras respostas. Por enquanto, resta-nos aguardar o desfecho desta história.
Dr. Nélio M. S. A. Sasaki
Coordenador do Núcleo de Ensino e Pesquisa em Astronomia-NEPA
Professor e Pesquisador Adjunto da Universidade do Estado do Amazonas (UEA)