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Nicarágua elege novo presidente em pleito marcado por irregularidades

Nicaraguense varre diante de mural de Fidel Castro e Daniel Ortega em Manágua, Nicarágua. Foto: Esteban Felix/Associated Press

Sylvia Colombo | Folha de São Paulo

São Paulo – Uma das eleições mais irregulares da América Latina nos últimos tempos ocorre neste domingo (6), na Nicarágua.

A oposição foi banida da política há poucos meses, com a expulsão dos últimos 16 deputados não-governistas no Congresso e a retirada da licença do PLI (Partido Liberal Independente), único partido não-alinhado ao governo.

Restaram legendas pequenas, cujos representantes são chamados de “zancudos” (mosquitos) na linguagem popular nicaraguense, pois se apresentam com anuência da Presidência e com o único objetivo de obter verbas.

Observadores internacionais foram proibidos de comparecer, o que gerou protestos do Centro Carter (EUA), da OEA (Organização dos Estados Americanos) e da União Europeia.

O candidato que lidera as pesquisas é o atual presidente, o líder sandinista Daniel Ortega, 70, com 69% das intenções de voto segundo pesquisa do instituto M&R, divulgada na última terça.

Estima-se que seu partido, a Frente Sandinista de Libertação Nacional, irá ocupar cerca de 70 cadeiras no Congresso, composto por 91 membros.

Já em seu terceiro mandato, Ortega havia promovido uma alteração constitucional para permitir a reeleição indefinida. Portanto, agora concorre a seu quarto período, tendo como candidata a vice-presidente sua mulher, Rosario Murillo, 65, também ex-guerrilheira sandinista, hoje porta-voz do governo.

Nos últimos anos, de modo informal, Murillo exerce também as funções de chanceler e de chefe de gabinete de ministros. Popularmente, ela é conhecida como “co-presidente”.

“Estamos a um passo de legitimar no poder uma nova dinastia familiar, como já ocorreu com os Somoza”, explicou à Folha o cientista político Oscar René Vargas.

O estudioso se refere ao poder autocrático exercido no século 20 por essa linhagem, que governou o país com mão dura por mais de 45 anos, por meio das gestões de Anastasio Somoza García, de seus filhos Luis Somoza Debayle e Anastasio Somoza Debayle, e de governantes alinhados a eles. Nesse período, houve perseguição à imprensa e à oposição.

O período somozista terminou após uma longa mobilização revolucionária de opositores do regime, que incluíam desde a guerrilha urbana até setores de classe média, empresários, a Igreja Católica, e contou com o apoio de parte da opinião pública internacional.

Por fim, quem liderou a vitória final sobre os Somoza, em 1979, acabou sendo a Frente Sandinista de Libertação Nacional, com o projeto de redemocratizar o país e implementar um governo de cunho socialista.

Entre os líderes dessa força estava Daniel Ortega, que foi presidente pela primeira vez entre 1985 e 1990.

Depois, seguiu disputando eleições, mas só voltou a vencer novamente em 2006, reassumindo o cargo que ocupa até hoje.

ECONOMIA

Os ventos da economia, porém, não sopram de forma favorável ao líder nicaraguense. “Já não teremos, no ano que vem, a ajuda da Venezuela, e a Nicarágua vai sentir o impacto da desaceleração mundial do mesmo modo que está ocorrendo com o resto da região”, diz René Vargas.

Para o analista, a expectativa de uma recessão é o que vem causando esse desejo de centralizar o poder por parte de Ortega.

“A vitória está cantada, é pouco o que se pode fazer. Quem pode fazer algo vai abster-se ou anular o voto”, conta René-Vargas.

Desde que se baniu a oposição do pleito, surgiram alguns movimentos locais de protesto, mas sem um líder ou partido à frente destes.

“É uma reação muito débil, levada adiante por redes sociais e por líderes locais. Mas creio que, se a abstenção for realmente alta, isso ao menos tirará um pouco de legitimidade de Ortega”, conclui René-Vargas.

Na Nicarágua, o voto não é obrigatório, mas a taxa de comparecimento é historicamente alta, por volta dos 70%. Para essa votação, os institutos arriscam que estará entre 50% e 60%.

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