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‘Nunca se viu tanta safadeza como agora’, diz Armando Meneses

Armando Meneses (Antonio Lima)

Parintinense. Aos 10 anos de idade chegou em Manaus com a família almejando melhores condições de educação. Em sua trajetória profissional, há destaque na Escola Superior de Guerra, no Rio de Janeiro. Advogado do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS). Conselheiro aposentado do Tribunal de Contas do Estado do Amazonas (TCE) e professor de História do Brasil. Foi, ainda, repórter no Jornal do Comércio e integrou a Academia de Letras e Ciências Jurídicas. Atualmente integra a Associação de Escritores do Amazonas e é membro da Academia Amazonense de Letras, onde esteve na presidência em 2014 e 2015.

No contexto político, presidiu a União dos Estudantes do Amazonas e vice-presidente do Diretório Acadêmico de Direito da Faculdade de Direito do Amazonas. Foi vereador e, seguramente, o mais jovem secretário de Estado do Interior e Justiça. Estamos falando de Armando Meneses, que completa no próximo dia 21 90 anos de idade. E conversa com A Crítica, ele nos conta as principais sensações deixadas nessas experiências vividas.

Dos cargos que o senhor já ocupou, qual destaca como mais desafiador?

Eu acho que no Tribunal de Contas. Porque lá eu cheguei muito cedo e logo no início da minha atividade como presidente, havia uma prática desonrosa dentro do tribunal. Juízes viajam com suas esposas, com passagem aérea, permanência deles e até pagamento com assistência médica pagos pelo Estado. Quando eu assumi, coloquei os cinco juízes na minha sala e disse: ‘Meus amigos, de hoje em diante acabou com a safadeza que se praticava nessa casa. De hoje em diante, cada um pode ir a São Paulo por sua conta, mas com a ajuda do Estado, nunca mais’. Sabe o que aconteceu? Nunca mais o Armando Meneses foi presidente do Tribunal de Contas. Sabe o cargo que me deram lá depois disso? O de corregedor-geral, aquele que dá ordem de serviço para todo o mundo, até pune, se for o caso. Me deram esse direito de sê-lo, para fazer um castigo, mas eu cumpri com muito zelo, muita satisfação. O TCE foi um grande estimulador da minha vida.

Qual a grande inspiração para os seus escritos?

Eu sou memorialista. Então, eu rebusco as informações ligadas a momentos e passagens da vida da gente. É isso que faço. Agora mesmo, o Amadeu (Thiago de Mello) me disse que eu precisava fazer um trabalho sobre os meus amigos vivos, cuidando da alma, do sentimento humano. Mas eu vou fazer aquilo que eu quero. Memorialista como eu sou, eu vou voltar a contar as histórias que se passaram na minha vida. E vou começar a contar histórias que se passaram na vida da nossa família, vivendo em Maués por exemplo. Isso tudo me faz pensar em fazer o trabalho do jeito que eu entendo e quero.

No tempo que o senhor assumiu a presidência da academia, qual o principal gargalo que o senhor vivia durante a administração?

Nós vivíamos na academia amazonense de letras em uma pobreza que dava dó, até pena. Mas sempre contávamos com a boa vontade e gentileza do poder público. No meu primeiro mandato, o doutor Robério Braga, secretário de Cultura, o prefeito Arthur Neto, ambos me faziam a gentileza de solucionar esses conflitos. O recurso fundamental da academia era da Prefeitura e do Estado. Recebíamos R$ 12 mil, depois baixou para R$ 9 mil. Por fim, esse valor já dependia do ordenamento e aí tudo ficou mais complexo, porque a burocracia aumenta e a espera para liberação do dinheiro pela Secretaria de Fazenda (Sefaz) é demorada.

 Qual a representatividade da Academia Amazonense de Letras?

Ela é uma instituição de cultura das mais admiradas e conceituadas, seguindo o caminhar da academia brasileira e se apoiando na orientação da academia de letras de Paris, na França. A academia tem suas portas abertas para o público. Nós devemos estar sempre muito atentos à  sua existência e a sua vida para o público, de modo que, no comum, além da sua vida normal, existam programações culturais. Por um tempo, realizávamos em todos os sábados reuniões que complementavam a vida da academia ligada a instituições, como saraus. Eu participava disso com muita alegria, com muito júbilo, porque eu entendia que estava construindo alguma coisa em favor da população.

Que lição o senhor tira dessa convivência próxima com a academia?

 A academia me serviu, me deu o direito de ser um homem de pensamento mais elevado, desenvolvido. Ela  me ensejou na vida. Forneceu-me uma oportunidade maior ainda, de conhecimentos, de informações gerais, de cultura, de tudo na vida, até o amor por ela. O sentimento pelo querer bem. Além disso, ela  me serviu como um grande instrumento cultural. A maior informação que eu tive da vida, tudo aquilo que me ensejou, maior vantagens da vida cultural, eu fiquei devendo a academia, isso eu lhe digo com muito carinho, com muito amor. Por esses sentimentos, posso dizer que fiquei a dever na academia.

Como se preparar para a vida?

 Estar em contato com a cultura em geral. É por isso que eu falo com grande felicidade e amor sobre a vida na academia. Ela dá justamente essa oportunidade. Quem vive dela,  jamais está limitado, ligado a apenas um momento, um sentimento, a uma cultura. Quem vive dela, recebe a cultura em geral, olha o presente, o futuro. Se integra com o mundo inteiro e com os sentimentos que esse mundo provoca.

Como foi a sua experiência na Escola Superior de Guerra?

Foi um ano inteiro intenso e em meio a isso, quando se começa um curso, logo depois, é indicado ao candidato o assunto que ele vai abordar, de acordo com o seu nível intelectual. Com o determinado assunto, você escreve um livro. E a mim foi conferido o título: Autopreservação Democrática – Oposição e Contestação Políticas.

O que é ser professor para o senhor?

Uma das melhores coisas que aconteceu na minha vida. Aquela altura, professor era obrigado a usar terno completo, só não precisava a gravata. Eu lecionava no ginásio, com janelas abertas, sem ar condicionado. Usava terno de linho inglês, uma roupa alinhada e menos quente. Ser professor me encantava. Eu fazia aquilo com muito gosto. Levava os meus alunos a me aplaudirem até. Era uma sensação muito prazerosa, de dever cumprido. Como professor eu era admirado, queria bem meus alunos. Posso dizer que realizei o meu trabalho com felicidade, com grandeza e com reconhecimento dos meus alunos, que é algo que conquistamos.

O que o senhor pode falar da política brasileira?

Você atualmente assiste a um movimento geral no país. Nunca se viu, nunca se constatou no país tanta vergonha, safadeza, indignidade como agora. Levam para casa dinheiro, assaltam, fazem com o dinheiro público o que bem entendem. Isso é uma vergonha. Eu estou louco que acabe esse período, que haja novas eleições, para que o povo brasileiro possa escolher melhor, pessoas com dignidade, caráter e honradez.

O que falar do sistema político brasileiro. É ele o problema?

 Eu não tenho do que me queixar do sistema político brasileiro. Acho que ninguém tem que mudá-lo. Absolutamente. Acho que ele deve continuar, mas o que devemos fazer é expurgar do poder esses bandidos, desonestos, desonrados. E somente nós podemos fazê-lo, através das eleições. Nossa grande arma é o voto, e isso eu estou esperando ansiosamente para fazê-lo. Vou votar com 90 anos, para corrigir o nosso país e a nossa instituição democrática.

Quais são seus planos para o futuro?

(risos) Falar de futuro com 90 anos (risos). Como eu estou com essa folga de tempo, tempo farto, como assim eu posso dizer… Eu vou voltar a escrever, com a graça de Deus. Minha esposa reclama dizendo que eu fico me cansando. Mas não, eu tomei essa decisão porque é aquilo que eu gosto e quero, que é escrever e produzir. Isso me deixa muito feliz e realizado.

Perfil Armando Meneses

Idade: 90 anos

Atividade atual: Membro atual da Academia Amazonense de Letras

Cargos: Advogado no INSS, conselheiro do TCE, professor, vereador, presidente da AAL

Experiência:  Cursou a Escola de Guerra (RJ), foi professor de História, repórter no Jornal do Comércio, presidiu a AAL em 2014 e 2015, integra a Associação de Escritores do Amazonas.

Fonte: acritica

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