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Opinião: Sensibilidade

Por Mário Adolfo Filho

Seu João tem 65 anos. Ele é dono de um pequeno ateliê que, artesanalmente, confecciona adornos em Parintins. Faz isso há 40 anos, após herdar a habilidade do pai. Com este negócio, conseguiu mandar duas filhas para estudar em Manaus. Deposita dinheiro todos os meses.

Há quatro meses ele não manda o dinheiro. As filhas terão que voltar para o interior. Seu João soube que não vai haver o Festival Folclórico de Parintins, pois o governo cortou a verba. Surgiu um alento.

O presidente da república disse que daria R$ 4 milhões para viabilizar a festa. A internet gritou no ‘Tribunal do Facebook’. Disse que é um absurdo bancar uma “festinha para poucos”. O rebanho de internautas seguiu o discurso sem pensar. Diante da repercussão negativa, a presidência cancelou o repasse.

As duas filhas de Seu João tiveram que voltar de barco, pois não tinham dinheiro nem para passagem de avião. Ao chegarem em casa, encontraram o amigo vizinho chorando na porta de casa. O pai havia comprado um grande suprimento para abastecer o comércio esperando a festa. Vai amargar um prejuízo e não conseguirá pagar o aluguel de casa.

Os donos de restaurantes decidiram nem abrir, assim como os hotéis e pousadas. Todos também haviam se abastecido e não vou poder nem pagar o fornecedor na capital. Quem alugava casas para o festival há décadas, também não sabe o que fará sem o ganho extra.

Isso nunca havia acontecido. Em Manaus donos de embarcações dispensam tripulação, pois sem as viagens para a Ilha, os negócios complicaram. O comércio, que também explode com as vendas e presença de turistas, demitiu vendedores e supermercados contabilizam produtos estragados por não haver clientes que levavam fardos e fardos para o festival. A rede hoteleira vive o pior mês dos últimos anos. O índio chorou. O branco chorou!

Esse conto é fictício (ou quase). Mas agora você consegue entender que o Festival de Parintins não é só uma “festinha para poucos” que se resume a uma brincadeirinha de três dias? Vá um pouco mais além ao analisar esta situação. Se você olhar de forma rasa, não vai conseguir ver o quanto essa derrocada é prejudicial para todos nós, até para você que odeia boi e que tem vergonha das toada e se orgulha ao ver a falência da festa. O Estado arrecada R$ 54 milhões com essa “festinha” e investe pouco mais de R$ 10 milhões (números de 2013).

Com ou sem festival as pessoas vão continuar precisando de ajuda nos hospitais e melhorias na educação. Não é nem Garantido nem Caprichoso que prejudicam a segurança. Cultura corresponde a 1% de todo o orçamento. Você acha mesmo que esse 1% é que faz a diferença no resultado final da segurança? Que os bois aprendam a não depender apenas de verba pública.

Que andem com as próprias pernas e que também haja investimento do governo na festa. É nossa cultura. São as nossas raízes. Temos que valorizá-las.

Mário Adolfo Filho | Jornalista, cobre o festival de Parintins a 13 anos.
Mário Adolfo Filho | Jornalista, cobre o festival de Parintins a 13 anos.
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