Superaglomerado de Vela
Em 1953, o astrónomo francês Gérard de Vaucouleurs provou que aglomerados de galáxias formam, também, estruturas maiores, as quais nomeamos “superaglomerados de galáxias” ou “supercúmulos de galáxias”.
Em geral, a maioria dos superaglomerados possuem milhões de anos-luz de diâmetro e contém milhares de galáxias. Termos a convicção que há superaglomerados equivale a dizer que as galáxias não estão uniformemente distribuídas no Universo. Mas cuidado! Também é verdade dizer que grande parte das galáxias se organizam em grupos e aglomerados. Em média, cada grupo possui 50 galáxias, ao passo que cada aglomerado possui algo da ordem de milhares de galáxias. Percebe-se, portanto, que superaglomerados são as maiores e mais massivas estruturas conhecidas no Universo. Um superaglomerado facilmente comporta 10 milhões de galáxias.
Quando se usa o termo “superaglomerado”, entenda-se: estruturas formadas por enxames de galáxias e muralhas que medem até 200 milhões de anos-luz. A figura 02 mostra uma foto tirada pelo Telescópio Espacial Hubble de um superaglomerado.

Em princípio, podemos dividir os superaglomerados em dois grandes grupos que levam em consideração o factor distância, assim temos: superaglomerados próximos e superaglomerados distantes.
Entre os superaglomerados distantes citam-se: Superaglomerado Draco, Superaglomerado Virgo Coma e Superaglomerado Aquarius-Capricornus. Entre os superaglomerados próximos citam-se: Grupo local, Aglomerado de Virgem e Superaglomerado Shapley. A nossa Via Láctea situa-se no Grupo Local, o Aglomerado de Virgem certamente é um dos maiores e o superaglomerado Shapley é sem dúvida o mais famoso de todos eles. Situado a aproximadamente 650 milhões de anos-luz da Terra, este superaglomerado possui cerca de 24 enxames massivos, que ao serem analisados em raios-X, permitiram-nos a medição da velocidade de milhares e milhares de galáxias.
Na Astronomia moderna, imagina-se que o superenxame Shapley fosse o maior de sua categoria na nossa vizinhança cósmica. Observe que a presença de um superaglomerado massivo ao redor de nossos domínios muda significativamente a distribuição do espaço-tempo nas proximidades do grupo local.
E se você está a imaginar que essa situação não poderia ficar pior, então, você estava equivocado. Afinal, uma equipa de astrónomos internacionais encontraram outro superenxame ainda maior que o superaglomerado Shapley. É bem verdade que ele está mais distante, algo próximo dos 800 milhões de anos-luz, mas a levar-se em conta a distorção gravítica do mesmo, 150 milhões de anos-luz é uma diferença ínfima.
Há uma região do espaço que basicamente vive na penumbra, a presença de poeira e estrelas no plano da Via Láctea obscurecem as galáxias que estão ao fundo, aparentemente, dá-se a impressão de se tratar de um corte do espaço completamente sem fontes extragalácticas. Após um bom tempo de investigação, os astrónomos chegaram a conclusão que naquela região, onde está o superenxame de Vela, teríamos algo tão massivo quanto o superaglomerado de Shapley. O que implica em relevantes mudanças no cálculo dos fluxos locais de massa.
Na figura 01, encontramos o superaglomerado de Vela. Na elipse maior temos a região ao redor do superenxame e a distribuição das galáxias em seu interior, ao centro da mesma figura há uma faixa leitosa, é justamente a Via Láctea que está a cobrir parte do superaglomerado de Vela. As cores usadas na figura 01 estão a indicar as distâncias das galáxias – no intervalo de 500 até 1000 milhões de anos-luz temos amarelo para o pico do superaglomerado de Vela, verde para objectos mais próximos e laranja para objectos mais distantes. A elipse está a marcar a extensão aproximada do superaglomerado de Vela que atravessa o plano galáctico. A sigla “SC” na elipse menor significa Concentração Shapley, estamos a falar da massa agregada, analogamente, “VSC” refere-se à massa agregada do superaglomerado de Vela. Também são avistadas na figura 01 as duas galáxias satélites da Via Láctea: Grande Nuvem de Magalhães (LMC) e Pequena Nuvem de Magalhães (SMC).

As pesquisas estão a avançar, claro, o radiotelescópio MeerKAT ajudou muito. Só para termos uma ideia, ele descobriu 1300 galáxias em uma região onde havíamos descoberto 70 galáxias. Quando ficar tudo pronto, o MeerKAT irá varrer uma área de um milhão de metros quadrados, o que equivale a dizer que ele mapeará o céu 10 mil vezes mais rápido do que qualquer outro telescópio.
Portanto, descobrir novos aglomerados e superaglomerados é questão de tempo. Em breve, teremos um novo mapeamento do Universo. Por ora, ficamos a nos acostumar com a frequente descoberta de estruturas colossais que estão na vizinhança da Via Láctea.
Dr. Nélio Sasaki – Doutor em Astrofísica, Líder do NEPA/UEA/CNPq, Membro da SAB, Membro da ABP, Membro da SBPC, Membro da SBF, membro da UAI, membro da PLOAD/Brasil e ST/Brasil, Revisor da Revista Areté, Revisor da Revista Eletrônica IODA, Revisor ad hoc do PCE/FAPEAM, Director do Planetário Digital de Parintins-NEPA/UEA/CNPq, Director do Planetário Digital de Manaus-NEPA/UEA/CNPq, Professor Adjunto da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).