A figura 01 mostra a concepção artística de uma estrela de neutrões a qual possui um intenso campo magnético. Denominada Swift J0243.6+6124, essa estrela nos chama a atenção pelo facto de emitir jatos de rádio. O detalhe é que a teoria actual não previa tal configuração.
Ao observar Swift J0243.6+6124, os astrónomos notaram que a estrela estava a recolher material a uma taxa anormal. Como consequência, uma colossal quantidade de raios-X foi emitida nas partes mais internas do disco de acreção da estrela. Com o uso do VLA (um radiotelescópio de altíssima precisão e sensibilidade) uma equipa de astrónomos conseguiu registar a emissão de ondas de rádio. Esse comportamente pode ser entendido graças à existência de jatos de rádio – que são feixes velozes e estreitos de material.
Na figura 01, os jatos estão na direcção dos polos magnéticos de Swift J0243.6+6124. Aliás, o nome Swift tem um sentido, a equipa de astrónomos da Universidade de Amesterdão usou o Telescópio Espacial Swift (da NASA) e o VLA (Karl Guthe Jansky Very Large Array) – localizado no Novo México – para realizar suas investigações.

A figura 03 mostra a concepção artística do sistema binário Swift J0243.6+6124. Na imagem temos uma estrela de neutrões (à direita) cuja orbita dura 27 dias e, à esquerda, uma estrela doadora – mais massiva e de rápida rotação.
Devido sua alta rotação, a estrela doadora lança um disco de gás ao redor do equador estelar. Conforme a estrela de neutrões avança em sua órbita, ela atrai parte do fluxo gasoso presente na redondeza. Esse mesmo material aos poucos espirala ao redor da estrela de neutrões, formando assim o disco de acreção.
Conforme resumiu um dos astrónomos da equipa do ICRAR (International Centre for Radio Astronomy Research) da Universidade Curtin – Dr. Miller-Jones: “As estrelas de neutrões são cadáveres estelares”. Isto, pois, as estrelas de neutrões se formam quando uma estrela massiva fica sem combustível e explode como supernova. Neste processo, as partes centrais da estrela é lançada sob sua autogravidade. Consequentemente, este mecanismo acarreta o aumento do campo magnético estelar. Tal aumento é da ordem de biliões de vezes mais intenso que o campo magnético solar.
Segundo a equipa, tanto estrelas de neutrões quanto buracos escuros podem ser encontrados nas órbitas de alguma estrela-companheira que esteja nas proximidades. Como já discutimos nesta coluna, o processo denominado canibalismo é corriqueiro entre estes corpos celestes. Assim, o gás liberado pela estrela-doadora pode alimentar tanto estrela de neutrões quanto buraco escuro que esteja ao redor daquela. A alta quantidade de material a ser “engolido” pela estrela de neutrões acarreta em uma exibição fenomenal quando parte do material é expelido em forma de jatos altamente energéticos.
Claro que tais jatos eram conhecidos pelos astrónomos. Entretanto, a novidade encontra-se no facto de, até o presente momento, somente termos observado jatos oriundos de estrelas de neutrões cujo campo magnético era muito fraco. Na oportunidade, astrofísicos lançaram mão da tese na qual a existência de um campo magnético estelar significatimente intenso bloquearia a aproximação de material do disco, e consequentemente, a formação de jatos não seria possível. Somado a esse pensamento, acrescenta-se o mito no qual os buracos escuros, por excelência, eram os reis do lançamento de jatos energéticos e que jatos fracos – oriundos de estrelas de neutrões – ficariam brilhantes o suficiente para observação se, e somente se, a estrela de neutrões tivesse um consumo de gás da estrela-doadora a uma elevada taxa.
Com a descoberta, a equipa traz à tona uma nova classe de fontes capazes de produzir jatos altamente energéticos. Aqueles que se dedicam a esse estudo restam-lhes responder algumas questões em aberto, a saber: qual ou quais as reais origens destes jatos? Qual a real quantidade de energia liberada por estes corpos celestes?
Para o Dr. Miller-Jones: “Os jatos desempenham um papel realmente importante na devolução de grandes quantidades de energia gravítica extraída pelas estrelas de neutrões e buracos escuros. Tal energia é devolvida para o meio ao redor das estrelas.”
Dr. Nélio M. S. A. Sasaki
Coordenador do Núcleo de Ensino e Pesquisa em Astronomia – NEPA