Tecnoassinaturas: uma busca pouco provável
Faz tempo que o homem procura por sinais de vida no Sistema Solar e fora dele. Com esse intuito, tecnologias foram criadas para nos ajudar a encontrar alguma pista. O surgimento de equipamentos sensíveis às frequências de Infravermelho, Ultravioleta, raios-X, entre outros, encorajou missões espaciais mais ousadas. Na actualidade, Marte (quarto planeta do Sistema Solar) e Europa (um dos satélites naturais de Júpiter) são os alvos preferidos para realizarmos uma bateria de experimentos e investigações. O intuito dos astrobiólogos é encontrar algum vestígio o qual permita o mapeamento do surgimento da vida. E quando falamos vida, estamos a falar de microorganismos. Dois importantes instrumentos que estão a colaborar para o sucesso das investigações são Kepler e TESS.
A Sonda Espacial Kepler [figura 1a] foi lançada em 2009 e consiste em um observatório espacial projectado pela NASA o qual busca exoplanetas e observa as 100 mil estrelas mais brilhantes do céu. Transiting Exoplanet Survey Satellite (ou simplesmente TESS) [figura 1b] é um telescópio espacial lançado em abril deste ano e tem como missão encontrar exoplanetas em trânsito ao redor de estrelas próximas. Juntos, Kepler e TESS, repassam um grande volume de dados, os quais mostram a existência de vários exoplanetas e de suas respectivas bioassinaturas. Vale salientar que bioassinatura é o termo usado pelos astrobiólogos em referência à assinatura de vida apresentada por cada exoplaneta. No último congresso de Astrobiologia, a ambição dos investigadores foi além do desejo de encontrar vida microbiana. Agora, alguns astrobiólogos estão a defender a tese na qual a humanidade tem que investigar também vestígios de tecnologias que foram desenvolvidas em outros planetas. A tecnoassinatura – como ficou conhecida – uma vez confirmada, pode nos dizer se há ou se houve tecnologias em outros ambientes além do Sistema Solar. Dentre as tecnoassinaturas existentes, certamente, as ondas de rádio são as mais conhecidas. Claro, além do exemplo anterior, citamos ainda sinais na frequência do laser, sinais de estruturas massivas, atmosfera rica em poluentes, entre outros, são indícios que houve tecnologia avançada o suficiente em outro planeta ou satélite natural. Ultimamente, investigações foram realizadas usando-se radiotelescópios os quais operavam na faixa rasa de ondas de rádio. A varredura em micro-ondas já é algo mais recente que as ondas de rádio. Entretanto, desde o século XX, a humanidade tem deixado sinais de ondas de rádio, UHF e VHF a se propagarem em todo o Sistema Solar.
Do ponto de vista histórico, a ideia sobre tecnoassinaturas surgiu antes mesmo da era espacial. Ainda no início do século XX, os astrónomos perceberam a real possibilidade de haver comunicação interplanetária com o uso unicamente de ondas de rádio. Facto que culminou em uma nova era da Astronomia, a era tecnológica. E então, os registos dos planetas vizinhos foram se tornando mais precisos. Na sequência, o uso de sinais na faixa de rádio e micro-ondas para o transporte de informações através de distâncias significativamente grandes – e com pouca interferência – possibilitou a análise de dados dentro da nossa galáxia e, mais recentemente, entre as galáxias próximas. Com o surgimento de equipamentos mais sofisticados tais como Kepler e TESS, a Astronomia salta para outro patamar no qual já lidamos com planetas similares à Terra (denominados super-Terra), planetas tipo-Marte, tipo-Vénus, etc. As evidências nos mostram um universo propício à vida. Entretanto, no século passado, tivemos um debate fervoroso a respeito da possibilidade de vida em outros planetas. Por um lado, Frank Drake (e a famosa equação de Drake) afirma que nunca podemos lançar a zero a possibilidade de encontrarmos tecnoassinaturas. Por outro lado, Enrico Fermi o qual foi categórico ao afirmar que se tais tecnoassinaturas existissem, já teríamos encontrado algo.
Hoje, o panorama é o seguinte: motivados pela descoberta da alta taxa de planetas existentes na Via Láctea, os astrobiólogos planeam refazer as investigações em busca das tecnoassinaturas. Essa idéia não é consenso no meio Astronómico, haja vista que muitos astrónomos posicionaram-se e afirmaram que a existência de tecnoassinaturas seria uma aberração do universo que conhecemos. O maior argumento dos astrobiólogos é a descoberta da Estrela Tabby, a qual apresentou anomalias na coleta de seus dados. Para a maioria dos astrónomos, tais anomalias se devem unicamente à presença de uma nuvem de poeira.
Entendemos o quão importante é o conhecimento sobre os astros do Sistema Solar. Certamente, as informações sobre o estudo da presença de água em Marte, a possibilidade em termos algo nos “oceanos” de Europa, ou até mesmo em Encélado, a coleta de todas as bioassinaturas dentro e fora do Sistema Solar são informações altamente relevantes. Lidarmos com teorias científicas é bom, entretanto, não podemos esquecer que tais teorias estão sujeitas a limitações. Para este colunista, a existência de tecnoassinaturas encontra-se justamente no ponto onde as teorias mostram suas fragilidades e limitações. Logo, a busca por tecnoassinaturas são pertinentes, porém, pouco prováveis.
Dr. Nélio M. S. A. Sasaki
Coordenador do Núcleo de Ensino e Pesquisa em Astronomia – NEPA