Terra e Terras (super-Terras)
Nos bastidores da Astronomia, um dos instrumentos que está em evidência é o HARPS [do inglês: High Accuracy Radial velocity Planet Searcher] trata-se de um “descobridor” de planetas lançado pela ESO. A novidade em si não é o instrumento e sim as revelações do mesmo.

Estudos mais recentes afirmam que estrelas vermelhas de fraca luminosidade possuem nas chamadas “zonas habitáveis” muitos planetas rochosos pouco maiores que a Terra.
Estima-se a existência de dezenas de milhares de milhões de planetas que se encaixam na categoria: Super-Terras, estamos a contar somente os planetas dentro da Via Láctea. Provavelmente haja outra centena de planetas nas regiões imediatamente circunvizinhas ao Sol.
As medidas do HARPS são as primeiras evidências directas do quão frequentes são as super-Terras, ao redor de estrelas anãs vermelhas, que correspondem a 80% de todas as estrelas da nossa Galáxia.
-Alto lá! Afinal, o que a Astronomia está a buscar?
-No fundo, a Astronomia está a mapear a Via Láctea, assim, os astrónomos preocuparam-se em estudar os tipos de estrelas mais comuns na nossa Galáxia, ou seja, anãs vermelhas – também chamadas de anãs do tipo M. Em outras palavras, estamos a falar de estrelas cuja luminosidade é débil e são consideradas pequenas ao compararmos seus tamanhos com o nosso Sol. O facto desse tipo de estrela corresponder a 80% de todas as estrelas da Via Láctea é importante, mesmo porque tais estrelas duram mais tempo que o nosso Sol.
Com a ajuda do HARPS, os astrónomos estimaram que aproximadamente 40% de todas as estrelas anãs vermelhas possuem uma super-Terra que está a orbitar na “zona habitável”. Um cálculo simples aponta para algo da ordem de 60 mil milhões de anãs vermelhas somente em nossa Galáxia. Assim, espera-se que haja dezenas de milhares de milhões de super-Terras na Via Láctea. Esses dados são muito interessantes, agora, imagine se multiplicarmos esses números por um factor de 50? Há no mínimo 50 galáxias a orbitar a nossa.


Após seleccionar 102 estrelas anãs vermelhas, uma equipa de astrónomos encontrou nove (09) super-Terras, ou seja, planetas cujas massas variam desde uma até dez massas terrestres. Dois exemplos são: Gliese 581 e Gliese 667 Cc.

Sublinha-se que planetas com massas significativamente grandes (tal como Júpiter) raramente são encontrados a orbitar anãs vermelhas. Os cálculos apontam que planetas com massa entre cem (100) massas terrestres e mil (1000) massas terrestres correspondem a menos de 12% dos planetas em torno das estrelas anãs vermelhas.
Ao considerarmos o elevado número de estrelas anãs vermelhas “próximas” ao nosso Sol podemos concluir que, ao menos, cem (100) exoplanetas do tipo super-Terra existam nas zonas habitáveis correspondentes às estrelas da circunvizinhança solar, em um raio de 30 anos-luz.
Temos que ter em mente que ao se falar de zona habitável estamos a nos referir àquela região onde a temperatura é favorável ao surgimento e/ou existência de água no estado líquido na superfície do planeta. No caso particular das anãs vermelhas, a distância entre o planeta e a estrela hospedeira é menor que a distância entre Terra-Sol.
Aparentemente, tudo está a se encaixar. Porém, se recordarmos que as anãs vermelhas são muito activas (ou seja, apresentam muitas erupções estelares) então há um grande problema. Afinal, o planeta que está a orbitá-la seria banhado em um “mar” de radiação ultravioleta e raios-X, o que diminui as probabilidades de existência de vida tal qual conhecemos.
Um dado que “assusta” foi a descoberta de Gliese 667 Cc, com uma massa equivalente a quatro vezes a massa do nosso planeta, ele é considerado actualmente o planeta gémeo mais parecido à Terra. Hoje, trabalha-se com a hipótese de Gliese 667 Cc ter condições atmosféricas similares às da Terra.
Certamente, a pergunta que os miúdos fazem sobre a Terra: “Professor, por qual razão a Terra é o único planeta com estas características no universo?” seguramente pode ser alterada para: “Professor, por qual razão a Terra é o único planeta com estas características no Sistema Solar?”
Dr. Nélio Sasaki – Doutor em Astrofísica, Líder do NEPA/UEA/CNPq, Membro da SAB, Membro da ABP, Membro da SBPC, Membro da SBF, membro da UAI, membro da PLOAD/Brasil e ST/Brasil, Revisor da Revista Areté, Revisor da Revista Eletrônica IODA, Revisor ad hoc do PCE/FAPEAM, Director do Planetário Digital de Parintins-NEPA/UEA/CNPq, Director do Planetário Digital de Manaus-NEPA/UEA/CNPq, Professor Adjunto da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).