Schiaparelli – parte 3
Nesta semana, voltou a ser assunto nos bastidores da Astronomia o módudo Schiaparelli. Isso porque a suspeita de uma anomalia no Schiaparelli foi levada a cabo e estávamos na espectativa sobre o que as novas imagens e informações sobre o módulo do ExoMars teria a nos revelar [vide https://www.parintins24hs.com.br/schiaparelli-parte-2/ ].
Após algum tempo, a equipa de investigadores que estão à frente desta missão anunciou que um colossal volume de dados tinha sido recuperado do “lander” e todas informações nele contidas confirmam que tanto o procedimento de entrada na atmosfera marciana quanto a etapa de travagem aconteceram, de facto, segundo o que fora planeado.
A equipa ainda garantiu que o guarda-quedas abriu-se a uma altitude de 12 km, quando o módulo estava animado de uma velocidade de 1,7 mil km/h. Já o escudo térmico de Schiaparelli tivera sido ejectado a uma distância de 7,8 km de altura.
A explicação oficial relata que conforme o Schiaparelli estava a perder altitude, já com o guarda-quedas aberto, o altímetro/radar Doppler fazia todos os registos correctamente, tanto que todas as medições ficaram gravadas no sistema de orientação, navegação e controlo. Quanto à saturação do IMU, a equipa se pronunciou a dizer que era de se esperar esse procedimento que aconteceu logo após o guarda-quedas ser accionado. Somente para clarear a informação, IMU (do inglês, Inertial Measurement Unit) em tradução livre pode ser entendido como a unidade de medida da inércia do objecto em questão, no caso, do módulo Schiaparelli. O IMU também está directamente relacionado à rotação do veículo espacial. Os dados apontaram que, embora o output tenha excedido em 1s além do tempo estipulado, pode-se considerar seu comportamento como dentro da normalidade e conforme o previsto na programação. Porém, a equipa fez uma ressalva, quando o Schiaparelli estava a 3,7 quilómetros de distância do solo marciano, o sistema de navegação havia registado uma altitude negativa (isto é, o sistema estava a considerar uma distância abaixo da superfície de Marte) e essa informação em particular acabou por antecipar a liberação do guarda-quedas e da concha traseira do módulo, seguidos do disparo dos propulsores de travagem e findando-se com a activação dos sistemas terrestres. Ou seja, era como se o Schiaparelli já tivesse alcançado a fase de aterragem. Entretanto, em momento algum essa antecipação foi maléfica e muito menos chegou a prejudicar a programação do módulo Schiaparelli.
Apesar dos dados actuais corroborarem com a tese apresentada pela equipa, será aguardado para fevereiro de 2017 a entrega de um relatório detalhado dos momentos em que Schiaparelli estava a se aproximar de Marte até a completa aterragem. Independentemente de quaisquer informações adicionais, não podemos perder de vista a aprendizagem e maturidade que essa missão proporcional à equipa. Aliás, fora confirmada basicamente a mesma selecção de investigadores que estarão à frente da próxima missão da ESA, a ExoMars 2, com lançamento previsto para 2020. Todo o conjunto de dados permitiu à equipa uma visão mais detalhada do comportamento da atmosfera marciana e a segunda missão ExoMars certamente conterá menos erros e falhas que a primeira. Por este lado, podemos afirmar que a ExoMars foi muito bem sucedida e que o planeamento de uma missão tripulada passa a ser questão de tempo. Vale sublinhar ainda que o TGO já iniciou uma sequência de manobras de aerotravagem visando deixar a nave espacial na sua órbita operacional, facto que está previsto para o final deste ano de 2017.
Após a retomada deste assunto, observaram-se duas linhas de pensamentos bem distintas uma da outra. Por um lado, há aqueles que estão optimistas quanto ao avanço tecnológico e a compreensão da atmosfera marciana – o que é um posicionamento natural de quem está a acompanhar essa belíssima missão espacial; e por outro lado, há quem ainda insiste em levantar muitos questionamentos sobre algumas pequenas falhas do módulo. Outro ponto levantado foi justamente como a gravidade marciana estava a actuar sobre Schiaparelli. Neste caso, será uma questão de tempo para que brevemente os astrónomos possam refazer o mapeamento gravítico e, então, corrigir possíveis perturbações no sistema do novo módulo. Agora, resta-nos aguardar e conferir o que o Schiaparelli ainda irá nos revelar.